Marcos Decliê

Reflexões sobre a vida

-- Amor Próprio
 “Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a ti mesmo” é a injunção do Decálogo. Para realizar esse mandamento em sua completude, temos que entender o que significa “amor próprio”. Pessoas piedosas enaltecem o “amor ao próximo”, pessoas religiosas o “amor a Deus”, mas quem realmente compreende o “amar-se”?
            No ato de amar desejamos o melhor para o objeto de nosso amor. Sendo o próprio eu o objeto do amor, como posso amar-me? Amor próprio significa buscar aquilo que é o melhor para nós. Nos Vedas, isso se chama shreya-uttamam, o summum bonum. A melhor coisa que eu posso oferecer à minha própria vida é empenhar-me em expandir e purificar minha consciência. O resultado desse empenho é a obtenção de um estado de paz, conhecimento e satisfação permanente. Muitos pensam que amar a si mesmo é adular o ego corpóreo com objetos e prazeres. Grave engano. Estimulam assim uma mentalidade egocêntrica e interesseira. Esquecem-se da alma, o ego verdadeiro, a essência espiritual eterna. Dessa maneira, não conseguem apropriadamente se amar. Consequentemente, não são capazes de verdadeiramente amar o próximo, e o que dizer amar a Deus.
-- Sanidade Espiritual
Espiritualidade sã implica em ter os olhos abertos à realidade. Não é uma fuga da realidade, nem fantasia ou delírios. É estar plenamente lúcido. É saber muito bem onde se está pisando e não se deixar iludir. O propósito da vida fica bem nítido. Não se engana ninguém nem se deixa enganar. Espiritualidade genuína implica em conhecimento perfeito do eu, do mundo em que vivemos e da Transcendência. Não é algo meramente caprichoso ou sentimental. (Cuidado! Existem muitos produtos de imitação no mercado...)
            A essência da espiritualidade é a conexão entre a alma individual e a Alma Suprema, Deus. Isso é o que de fato podemos chamar de “espiritual”. [Existem muitas mercadorias com o rótulo “espiritual”, mas estão longe dessa essência. Esteja alerta!] Estando assim conscientes da realidade que nos cerca e em comunhão com Deus, experimenta-se naturalmente autoconfiança, paz interior e felicidade plena, mesmo em meio a este mundo caótico.
-- Semeando e Colhendo
            Mesmo se você não aceita os conceitos do conhecimento védico de karma e renascimento, considere: “Colhemos o que semeamos”. O que hoje somos, já é nossa colheita. Agora está na hora de semear para a próxima safra. De fato, temos o destino em nossas mãos. O agricultor sensato separa os melhores grãos para serem usados como sementes no próximo plantio. Temos, portanto, que extrair as ervas daninhas e preparar bem o terreno (purificação da consciência), adubar bem a terra com um bom fertilizante (conhecimento espiritual) e regar regularmente (práticas espirituais). A boa safra está garantida. Boa colheita para todos!
-- Partindo Bem
            Uma grande fonte de sofrimento neste mundo são os apegos materiais. É natural sentirmo-nos apegados àquilo que gostamos. O problema está quando o apego torna-se neurótico ou passa dos limites.
            A cultura védica da Índia milenar é, por excelência, uma cultura do desapego. Existe hora de se apegar e a hora certa de se desapegar. Por outro lado, nossa cultura ocidental não dá a devida importância a isso e, inclusive, estimula o apego numa hora em que o ideal seria o desapego. No decurso da velhice, as forças e virilidade da pessoa vão se esvaindo. Compensa-se isso com o apego aos bens, à família, aos status, etc. Na inevitável hora da separação, a ruptura torna-se então extremamente traumática. É muito choro, muita dor, tanto para quem vai quanto para quem fica.
            As lições da vida nos ensinam que todos têm a oportunidade de aposentar-se. Nesse ponto deve-se seriamente começar o processo de desapego. Depois de ter dedicado maior parte da vida às coisas deste mundo, prepara-te agora para a tua partida. Vai tirando, gradualmente, tua exclusiva atenção às coisas referentes a teu corpo – negócios, vida social, entretenimentos, futilidades – e concentra-te no espírito. Recicla tua relação com Deus. Desliga a TV. Dá tempo para meditação. Ocupa-te em práticas espirituais e parte bem – solto, satisfeito por ter feito o melhor para ti, em paz com a consciência. Não saias como a maioria, perdida na perplexidade, torturada pelo medo, depressão, frustração e desespero. Segue confiante. Tu não te sentirás sozinho!
-- Amor a Deus
            Todas as religiões genuínas proclamam o amor a Deus, mas quem sabe realmente o que isso significa? Nas ruas, vemos muitos carros com adesivos “Deus é fiel”. Ele é fiel, mas e você? Ele te ama, não há dúvida, mas para onde está canalizada tua energia de amor? Para teu clube de futebol? Para tua namorada? Para teu cachorrinho? Para teu carro zero? A consciência de Krishna é um processo genuíno de despertar o natural sentimento de amor a Deus. Esse sentimento está, na verdade, sempre presente no coração de todos, mas, para uma grande maioria, encontra-se latente e adormecido. O maha-mantra Hare Krishna funciona como o despertador.
 Por: Purushatraya Swami.

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